Ao contrário do que se costuma pensar, o sistema partidário
brasileiro tem um enraizamento social expressivo. Ao considerar nossas
instituições políticas, pode-se até dizer que ele é muito significativo.
Em um país com democracia intermitente, baixo acesso à educação e
onde a participação eleitoral é obrigatória, a proporção de cidadãos que
se identificam com algum partido chega a ser surpreendente.
Se há, portanto, uma coisa que chama a atenção no Brasil não é a
ausência, mas a presença de vínculos partidários no eleitorado. Conforme
mostram as pesquisas, metade dos eleitores tem algum vínculo.
O Vox Populi fez recentemente uma pesquisa de âmbito nacional sobre o
tema. Deu o esperado: 48% dos entrevistados disseram simpatizar com
algum partido. Mas 80% desses se restringiram a apenas três: PT (com 28%
das respostas), PMDB (com 6%) e PSDB (com 5%). Olhado desse modo, o
sistema é, portanto, bem menos heterogêneo, pois os restantes 26
partidos dividem os 20% que sobram. Temos a rigor apenas três partidos
de expressão.
Entre os três, um padrão semelhante. Sozinho, o PT
representa quase 60% das identidades partidárias, o que faz que todos os
demais, incluindo os grandes, se apequenem perante ele.
A proeminência do PT é ainda mais acentuada quando se pede ao
entrevistado que diga se “simpatiza”, “antipatiza” ou se não tem um ou
outro sentimento em relação ao partido. Entre “muita” e “alguma
simpatia”, temos 51%. Outros 37% se dizem indiferentes. Ficam 11%, que
antipatizam “alguma” coisa ou “muito” com ele.
Essa simpatia está presente mesmo entre os que se identificam com os
demais partidos. É simpática ao PT a metade dos que se sentem próximos
do PMDB...
Se o partido é visto com bons olhos por proporções tão amplas, não
espanta que seja avaliado positivamente pela maioria em diversos
quesitos: 74% do total de entrevistados o consideram um partido
“moderno” (ante 14% que o acham “ultrapassado”); 70% entendem que “tem
compromisso com os pobres” (ante 14% que dizem que não); 66% afirmam que
“busca atender ao interesse da maioria da população” (ante 15% que não
acreditam nisso).
Até em uma dimensão particularmente complicada seu desempenho é positivo: 56% dos entrevistados acham que “cumpre o que promete”...
A avaliação de sua contribuição para o crescimento do País também se
mantém elevada: em 2008, 63% dos entrevistados estavam de acordo com a
frase “O PT ajuda o Brasil a crescer”, proporção que foi a 72% neste
ano.
Nas suas três décadas de existência, o PT desenvolveu algo que inexistia
em nossa cultura política e se diferenciou dos demais partidos da
atualidade: formou laços sólidos com uma ampla parcela do eleitorado. O
petismo tornou-se um fenômeno de massa.
(...)
* Texto escrito por Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi.
FONTE: REVISTA CARTA CAPITAL